sábado, 15 de março de 2014

Recordações de um clássico Sporting - F.C. Porto (época 1979/80).



Realiza-se amanhã, dia 16 de Março (Domingo), o penúltimo jogo desta época envolvendo dois dos "três grandes" do futebol português, mais concretamente, o clássico Sporting - F.C. Porto, no Estádio José Alvalade (Alvalade XXI). A oito jornadas do final do Campeonato Nacional, Sporting e F.C. Porto lutam "taco a taco" pelo 2º lugar, o qual dá entrada direta na fase de grupos da milionária Liga dos Campeões.
Atualmente, o Sporting dispõe de mais dois pontos que o F.C. Porto e em caso de vitória leonina, como desejamos e esperamos que venha a acontecer, aumentará a vantagem para cinco pontos, que já é uma diferença pontual razoável que permitirá encarar o resto da temporada com alguma tranquilidade, segurança e otimismo. Em caso de empate, ficará tudo como está, com vantagem para o Sporting. Mesmo em caso de derrota, o F.C. Porto passaria para a frente com mais um ponto que o Sporting, desvantagem esta que poderia ser perfeitamente anulada ainda com 7 jornadas para disputar. Assim, resumindo e concluindo, este Sporting-F.C. Porto não é um jogo decisivo na luta pelo 2º lugar, pois ainda há 21 pontos em disputa, mas é inegável que uma vitória do Sporting irá moralizar e motivar esta jovem equipa para realizar um bom final de campeonato.
Relativamente ao 1º lugar, temos de ser realistas e, como tal, pensamos que a diferença pontual de sete pontos que o Sporting tem em relação ao Benfica é já demasiada para se pensar que ainda é possível recuperar de tamanho atraso. Só mesmo uma quebra inesperada e fora do normal por parte do Benfica (por exemplo, com duas derrotas seguidas) é que poderia, eventualmente, fazer renascer a esperança leonina. No entanto, todos sabemos como o futebol é fértil em surpresas e, portanto, enquanto for matematicamente possível, temos de acreditar até ao fim, pois a esperança é a última a morrer!
Até hoje, Sporting e F.C. Porto defrontaram-se por 79 vezes em jogos a contar para o Campeonato Nacional, com o Sporting na condição de clube visitado. Desses 79 confrontos realizados em casa dos "leões", há a registar uma clara supremacia leonina de 42 vitórias (mais de 50 por cento), 18 empates e 19 derrotas. A título de curiosidade, registe-se que a última vitória leonina caseira aconteceu há já 4 anos, mais concretamente, na época de 2009/10, tendo então o Sporting derrotado o F.C. Porto por um concludente 3-0. Por outro lado, a última vitória portista no terreno dos "leões" havia acontecido na temporada anterior (2008/09), por 2-1, sendo que nas últimas 3 épocas se registaram 3 empates.
Na véspera de mais um grande clássico do futebol português e dando sequência a artigos anteriores, por mim publicados, de antevisão destes jogos entre os históricos "três grandes" do futebol português, uma vez mais, o Armazém Leonino recorda hoje um Sporting - F.C. Porto referente há já longínqua temporada de 1979/80, o qual deixou gratas e saudosas recordações não apenas em mim, mas entre todos os sócios e adeptos leoninos, pois o Sporting viria a sagrar-se campeão nacional no final dessa época.


Este Sporting - F.C. Porto de que vamos falar hoje tratou-se, aliás, do primeiro jogo entre estes dois clubes a que tive o prazer e o privilégio de assistir ao vivo, no velhinho peão do antigo e saudoso Estádio José Alvalade. O jogo, a contar para a 12ª jornada do Campeonato Nacional, disputou-se no dia 9 de Dezembro de 1979, precisamente no dia seguinte ao do meu aniversário em que completei 12 anos. E posso dizer que foi a melhor prenda que poderia ter recebido, pois para além de poder assistir ao vivo a um jogo desta importância e dimensão, no final fiquei ainda mais feliz com o resultado da partida: vitória do Sporting, por 1-0, com o golo solitário a ser apontado por Jordão, um dos meus maiores ídolos da infância e juventude.
Perante uma enorme moldura humana que quase esgotou o Estádio José Alvalade e sob alguma chuva que caiu durante parte do encontro (mas que não prejudicou o estado do relvado por aí além), assistiu-se a um excelente espetáculo de futebol, com muita emoção e luta, do primeiro ao último minuto, e sempre com incerteza no resultado até final da partida. O golo do Sporting foi marcado já perto do intervalo, aos 42 minutos, através de um remate de cabeça de Jordão que acorreu na grande área, rápido, oportuno e decidido, a um cruzamento do lado direito, muito bem medido, por parte do defesa Artur.

Jordão, o melhor marcador do campeonato
nacional 1979-80 e o melhor avançado da prova.

Ao longo do encontro, houve um domínio repartido entre as duas equipas no comando do jogo, tendo o Sporting se superiorizado ao F.C. Porto, sobretudo, durante a 1ª parte, assistindo-se após o intervalo a uma reação esperada e natural do F.C. Porto, que arriscou mais no ataque em busca, pelo menos, do golo da igualdade. As jogadas de perigo e as oportunidades de golo sucederam-se em ambas as balizas, mas os avançados foram perdulários, tendo mostrado uma pontaria desafinada e revelado uma grande ineficácia e desinspiração na hora do remate.
O F.C. Porto partia para a temporada de 1979/80 como um dos principais candidatos ao título, senão mesmo o mais forte candidato, pois era o campeão nacional das duas épocas anteriores e possuía, na verdade, uma equipa muito forte e bem entrosada, com jogadores de enorme qualidade técnica, muito bem orientados pelo Mestre José Maria Pedroto que foi, de facto, o grande obreiro do renascimento do F.C. Porto após 19 anos de "travessia no deserto". Portanto, apesar de jogar em casa, o Sporting rodeou-se de algumas cautelas, entrando em campo com uma equipa lutadora e determinada, disposta a correr e a lutar muito do primeiro ao último minuto, jogando de forma realista e pragmática, preferindo um futebol mais prático e objetivo, em detrimento de um futebol bonito e de grande qualidade técnica.
Durante a 1ª parte, o Sporting foi a equipa que teve o maior domínio e iniciativa do jogo, tendo sido também a equipa que mais procurou o golo, pois uma vez conseguindo adiantar-se no marcador, seria depois mais fácil, através de uma defesa compacta e de um meio campo lutador, controlar melhor o adversário, esperando pela sua reação e atacando apenas pela certa e em rápidos contra-ataques. Felizmente, o golo leonino apareceu na melhor altura, muito perto do intervalo, permitindo ao Sporting abordar a 2ª parte de outra forma, não arriscando tanto, preferindo adotar uma atitude mais expectante e de maior contenção, jogando com muita concentração, espírito de entreajuda e de sacrifício, privilegiando sobretudo o contra-ataque.
Apesar do maior domínio e ascendente portista durante a 2ª parte, este acabou por se revelar infrutífero e inócuo, pois os jogadores do F.C. Porto foram pouco objetivos e decididos na hora do remate, insistindo num futebol de grandes adornos técnicos e de muitos passes, mas sem a profundidade desejada e revelando pouca eficácia e inspiração na zona de finalização. Ao invés, os jogadores do Sporting bateram-se como autênticos "leões", com uma defesa intransponível ajudada por um meio campo muito batalhador e dispondo igualmente de avançados com um grande espírito de entreajuda.

Uma das equipas-tipo do Sporting da época de 1979-80.
Em cima (da esquerda para a direita): Eurico, Bastos, Jordão, Meneses, Fraguito e Fidalgo.
Em baixo (mesma ordem): Inácio, Ademar, Manoel, Manuel Fernandes (cap.) e Artur.

Para a história deste jogo, aqui fica a constituição da equipa leonina que, com esta vitória sobre o campeão nacional em título, mostrou que era também uma forte candidata ao título, como felizmente se veio a comprovar mais tarde. O treinador Fernando Mendes dispôs a equipa num sistema tático em 4x3x3, aparentemente ofensivo, mas na verdade, como Manuel Fernandes recuava muitas vezes para ajudar na luta do meio-campo, aquele sistema acabou por se transformar frequentemente num 4x4x2.
A equipa leonina alinhou da seguinte forma: Fidalgo; Artur, Bastos, Eurico e Barão; Fraguito, Meneses e Ademar; Manuel Fernandes (cap.), Manoel e Jordão. Ao intervalo, Barão cedeu o seu lugar a Inácio e aos 66 minutos foi a vez de Marinho entrar para o lugar de Fraguito, com o intuito de refrescar o meio campo leonino.


O duelo Jordão (melhor marcador) - Fonseca (guarda-redes menos batido).

A terminar, só para acrescentar que um dos aliciantes deste jogo era também o tão aguardado confronto entre o avançado do Sporting, Jordão, o melhor marcador do campeonato (que viria, aliás, a conquistar a "Bola de Prata", com 31 golos) e o guarda-redes do F.C. Porto, Fonseca, o guardião menos batido do campeonato. No final, pode-se dizer que Jordão levou a melhor sobre Fonseca, pois conseguiu, por uma vez, desfeitear o excelente guarda-redes portista, o qual foi um dos grandes responsáveis pelo facto da defesa portista ter sido a menos batida do campeonato. O Mestre Francisco Zambujal, o maior caricaturista desportivo de sempre, fez a habitual antevisão deste clássico para o jornal A Bola, retratando precisamente este duelo Jordão-Fonseca numa belíssima caricatura, as quais fazem também parte da história do futebol português e, em particular, do campeonato nacional.